No volante, perigo constante!
Essa mania brasileira de dizer que mulher no volante não sabe dirigir, já cansou. E alguém ai, por acaso sabe? Quem?! Tem certeza? Que atire a primeira pedra aquele que nunca infringiu uma regra de trânsito.
Se as mulheres, como já foi decretado (pela lógica machista que povoa a cabeça de ambos os sexos) é péssima motorista, este tipo de raciocínio matemático nos leva a concluir que: se elas não sabem, são eles, então, os detentores do título de exímios condutores de veículos. Mas, neste caso, dois mais dois não são quatro.
Tudo bem no principio do mundo motorizado a realidade era outra. Os homens eram, literalmente, os comandantes. Eles controlavam tudo e neste contexto de opressão, as mulheres não tinham nem vez, muito menos, voz e atitude. Era natural e humano serem mais inseguras em um ofício complexo como ter a direção nas mãos.
Mas graças à insistência das feministas, os tempos são outros e não se justifica mais a repetição de frases e rimas metidas a engraçadinhas como “ mulher no volante, perigo constante”. O pior, é que de se repetirem, muitos acabam por concordar com elas, como se fosse por osmose. Não era à toa que o escritor Nelson Rodrigues, naqueles tempos ainda mais machistas, já pregava a burrice da humanidade.
Se as mulheres levam a culpa pelo vai e vem enlouquecido dos carros nas caóticas cidades contemporâneas, os homens – coitadinhos – levam a fama sem deitar na cama, ou seja, são hiper gentis, delicados e ordenados no trânsito nosso de cada dia. Eles não discutem por vagas, por meio segundo a mais na sinaleira que acabou de abrir, muito menos criam caso com o motorista do lado que lhe cortou a frente, ou apenas fez uma ultrapassagem. Também não ficam com bronca do motorista atrás que dá sinal de luz para ele sair pela lateral, pois está devagar que seu seguidor, além de ignorarem, como gentlemen que são, qualquer grosseria alheia. Apelar para a pancadaria e até o exagero de matar, é um absurdo provavelmente inventado pela mídia, que volta e meia nos revela cenas deste calibre nos tristes noticiários diários.
Sarcasmos à parte, as mulheres por serem ( nessas cabeças reducionistas, que repito: incluem ambos os sexos) más condutoras, estarão no lado oposto? Não, ao contrário! Segundo estatísticas facilmente encontradas através do Google e nos valores da seguradoras de carros – que são mais baixos para elas que para eles – apontam que a direção feminina é menos perigosa que a masculina. As mulheres, de modo geral, são mais cuidadosas e provocam menos acidentes.
O inconformado de plantão pode até questionar que o número de infratoras aumentou nos últimos anos mas, para sua tristeza, podemos contra argumentar que é um aumento proporcional ao crescimento neste universo que gira em torno do automóvel.
Não tem jeito, o mais honesto para todos nós, é assumirmos que “gente no volante, isto sim, é perigo constante”, ao invés de culparmos apenas uma parcela da sociedade por uma questão de gênero e não copentência.
- Ouviram mulheres repetidoras deste mito? O recado é para todas vocês que sempre acreditaram neste conto da carochinha. Pensem bem: se lhes é permitido cuidar dos filhos, da casa e ainda do próprio emprego e renda da família, atividades, aliás, que depende direta e indiretamente do trânsito, por que fazer uso de um veículo na qualidade de condutoras, está além de suas capacidades?
O Brasil é um dos países mais problemáticos do mundo quando o assunto são os acidentes de trânsito. E o grande xis da questão está na falta (e nunca no excesso) de educação, planejamento urbano, segurança e cidadania da população. Excessos, agora sim, temos de agressividade, autoconfiança, desorganização e pressa. Comportamentos facilmente atribuídos a todos os sexos, inclusive os transgêneros e afins.